quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Então eu li "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector.

Bom, eu li Clarice Lispector pela primeira vez na vida, e como eu poderia defini-la? Acho que nenhum adjetivo faz jus à autora, mas em uma palavra: GENIAL! Sim, Clarice Lispector é genial. Eu resolvi começar pelo “A Hora da Estrela” que é o livro que todos conhecem, e não me arrependi da escolha.

Inicialmente (devo confessar), eu achei o livro chato e monótono, com um narrador (que eu acho que posso chamar de onisciente) que trata dos seus próprios dramas pessoais juntamente com os da protagonista, que a princípio não tem nome e é tratada como uma caricatura geral de uma típica retirante nordestina que veio para o Sudeste do Brasil. Mas como o livro tem apenas 87 páginas pensei: “Bora parar de preguiça, e ler esse treco, porque deve ser bom”. E realmente é. A partir de uma certa parte, o narrador, que se autodenomina Rodrigo S. M., começa a contar a história de uma alagoana de nome Macabéa, que passa por cada uma que eu não sabia se ria ou se chorava. Sinto muito dizer, mas eu acabava rindo inevitavelmente. Todavia, o cerne do texto da autora, pra mim, situava-se longe dos fatos cotidianos da personagem, mas no fato da protagonista não ter ideia da sua própria existência, determinado, basicamente, pela sua quase incapacidade pensar; ou seja, Macabéa não dava conta de si mesma. Para a personagem, as coisas que lhe acontecem ou o próprio estado de sua vida era como “natural”, sua vida era desse jeito porque era desse jeito, fim de papo. É um certo baque pensar que isso ainda é recorrente, as pessoas continuam não tendo oportunidades na vida, mas o pior é o simples existir que nos é apresentado por Clarice: a pessoa simplesmente existe, mas não tem consciência do que é o mundo e do por que é assim; e isso tudo leva a incapacidade de buscar um vida melhor.

Durante a história, o narrador vai fazendo um paralelo entre ele e a personagem, mostrando suas semelhanças que não são poucas, e não apenas entre os dois, mas entre todos. Uma passagem sobre isso, que eu achei muito boa: “(...) Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que ouro – existe a quem falte o delicado essencial”. Essa parte está bem no início do texto e foi aqui que ela começou a me ganhar, porque ninguém que fala que todos são iguais e incompletos, e um pouco acorrentados à própria sorte, pode ser qualquer, e Clarice é tudo, menos qualquer e mediana. Todos temos um pouco de Macabéa, e acho difícil alguém que consiga dizer com veemente convicção “Eu sei quem eu sou, e o motivo da minha existência”.

A abordagem modernista da autora tornou, como eu já disse, a leitura um pouco mais difícil no início, mas depois que você sai da zona de conforto, tudo segue tranquilamente. Vale muito a pena ler esse livro, que é uma obra-prima da literatura brasileira (na minha opinião).

Bom, acho que é isso. Espero que eu tenha compartilhado algo que valha a pena, e é isso. Até mais. ;)


PS: eu esqueci de mencionar isso, mas eu não sou especializado em literatura (muito pelo contrário, estudo Economia), e comecei esse blog com o intuito de ler e guardar as minhas opiniões sobre os livros. Ou seja, aqui você não vai achar uma opinião imparcial e de gabarito. Apenas alguém que gosta de ler, e quer compartilhar ideias.

PS.2: Eu não sou escritor, então provavelmente, algo pode ficar nebuloso no meio da minha escrita. Assim, desculpem-me desde já.

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